segunda-feira, 27 de abril de 2009

Ossos do Oficio

Alguem deve ter visto no Fantástico de ontem o novo advogado do casal Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, acusados de matar a menina Isabela, de 5 anos.
Na verdade, eu não vi no Fantástico, mas li no G1.

Tenho absoluta certeza o quanto este advogado, Dr. Roberto Podval deve estar sendo odiado pela opinião pública, tendo em vista suas afirmações acerca na inocência do casal.
Segundo o novo advogado, compulsando o processo friamente, não se identificam provas concretas quanto a autoria do crime, fato que, pelo princípio jurídico do indubio pro réu (na dúvida, beneficia-se o réu) daria a liberdade, ao menos provisória, ao casal acusado.
Certamente eu não tive como olhar esse processo, mas acredito, embora não queria acreditar, que deve assistir razão o referido advogado.
De antemão quero deixar claro que não tenho a menor intenção de defender este Dr. Roberto, até porque, se ele afirma poder defender esse casal, acho que não precisa de ninguém para defende-lo perante a imprensa e a opinião pública. Inclusive, afirma isso com suas próprias palavras: “O dia que eu não defender as causas que eu entenda justas, por receio da opinião pública, eu abandono a advocacia”.

Pois bem, o que gostaria de retratar hoje é sobre esse espanto que as pessoas tiveram ao ouvir de Podval que “não tem prova que eles (o casal) tenham feito, não tem”. Parece obvio para a grande maioria dos brasileiros que, perplexos, assistiram a este episódio, quem foi/foram os autores do crime. Acredito que se ainda vivêssemos na idade média, o casal já teria sido queimado. Porém, graças a evolução da sociedade e, por conseguinte, do Direito, eles ainda estão presos, bem presos.
Sinceramente, assim como os citados brasileiros, tenho pra mim que dificilmente existam outros autores para essa merda! Sinto, assim como a grande maioria, repulsa por esse casal, mas não posso, como futuro advogado, discordar do Dr. Roberto Podval.
Muitas vezes o obvio acaba por cegar as pessoas, que satisfeitas com o que já sentenciaram em suas cabeças, entendem por resolvido um problema. É fato que todos gostariam de ver preso o assassino de uma criança de 5 anos, ainda mais da forma como Isabela foi morta. Mas será mesmo que já conhecemos os culpados?
Ninguém estava dentro daquele apartamento e somente uma pessoa poderia dizer o que realmente aconteceu, mas esta pessoa infelizmente já morreu, Isabela. Daí, a única verdade a qual podemos chegar é através das provas obtidas com os testemunhos e as perícias. Se essas provas não são concretas, não demonstram com precisão o que aconteceu, ou pelo menos eliminem qualquer possibilidade de se prender inocentes, não há que se falar em condenação. E é daí que o novo advogado do casal pretende reabrir o caso, e fazer com que se iniciem novas investigações para então obter essas provas concretas que, segundo ele, ainda não se encontram nos autos.
Ironicamente, o delegado que acompanha o caso, diz “A idéia que eu tenho é que o advogado não leu o mesmo processo do qual estamos falando”, e como eu disse, não tenho meios de acessar o processo para chegar a alguma conclusão. O que estou afirmando é que se não há provas concretas quanto a autoria do crime, não se pode condenar ninguém, ainda que pareça obvio quem cometeu a infração penal..

Ossos do ofício! São por essas e outras que muitos desprezam a advocacia. Confesso que não sou lá muito fã das causas penais, mas afirmo aos que se interessarem, que o advogado age com base na lei, nunca contra ela. Em momento algum o Dr. Roberto Podval afirma a inocência de seus clientes, argumentando apenas acerca da ausência de provas para condena-los.
Na verdade, a intenção do advogado é utilizar-se do tempo, e da memória “flash” do brasileiro para prolongar o processo até que os fatos caiam no esquecimento, tendo em vista que os Nardoni serão julgados por um Juri, composto por representantes da opinião pública. Se o julgamento fosse agora, de imediato (ainda que já tenha mais de um ano o fato), qual a possibilidade do juri considerar a inocência do casal? Como este é o objetivo da Defesa, o interessante é que se demore bastante para o conhecimento deste veredicto. E infelizmente, ou felizmente, é possível que consigam esse adiamento.

Gostaria de deixar uma questão, considerada um tanto quanto “chavão” nas discussões jurídicas dessa natureza, para os que criticam a profissão do advogado. Caso o senhor Alexandre Nardoni fosse baleado enquanto aguarda em liberdade o processo, os médicos que o atendessem deveriam salva-lo se pudessem ? Deveriam os médicos salvar este criminoso em potencial, tendo em vista que ninguém ainda foi condenado?

É apenas um reflexão, por favor, não me condenem também! =)

2 comentários:

Anônimo disse...

Putz! Adorei o post! Não podia ter escolhido título melhor! =)

O lindo da advocacia é o advogado ter o dom de manobrar a lei a favor do interesse do seu cliente. A merda é quando o volante da manobra deixa de ser a justiça... =/

Também não tive acesso aos autos (ningu´me, né?!) e o clamor da Globo e da Record foi muito forte, o que influencia PRA CARALHO na opinião pública, maaaaaaassss, fizeram muita perícia nesse processo... Não é possível que não tenham provas suficientes para condená-los, o depoimento dos caras foi contraditório o tempo todo, se não tinha ninguém no apartamento, só podem ter sido os donos dele etc. etc. etc. Não acho que, neste caso, o obvio tenha cegado.

Quanto a reflexão sobre o médico, só "parafraseio" (é essa conjugação?) o título do post...

=)

Anônimo disse...

Um ano de talento inexpresso!
Volte a escrever!

:)